Diário Criativo — Aprendendo a escrever

bela
5 min readJan 23, 2024

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Quando me formei em jornalismo, escrever era uma tortura.

Photo by Nick Morrison on Unsplash

É um pouco irônico, eu sei. Até porque, a base do jornalismo é a escrita. Seja para rádio, TV ou podcast, todos os formatos começam com um texto, então estudar jornalismo sem gostar de escrever parece idiotice.

Então por que você escolheu seguir esse caminho? Foi o que eu me perguntei durante muitas noites.

Eu sempre tive uma “veia artística” forte, digamos assim.

Sabe aquela sensação de que você PRECISA criar algo? Pegar no lápis e desenhar, colorir, pintar, trazer ao mundo uma coisa nova e que tem um pedaço seu ali no meio? Então. Eu sempre sofri dessa angústia.

Mas por mais que eu amasse desenhar (pretendo escrever mais sobre isso no futuro), não podia cursar artes vinda de uma família pobre. Precisava de algo “garantido”, como dizem os pais, algo estável e com uma renda fixa (mal sabiam os pais que jornalista no Brasil é o mesmo que sucata).

Olhando em retrospecto, acho escolhi jornalismo porque, apesar de não gostar do ato em si, meus textos eram bons. Era elogiada pelos professores, tinha o hábito de leitura e estava orgulhosa da ótima nota na redação do ENEM.

Então, no auge dos meus 17 anos, me pareceu óbvio que jornalismo era a escolha certa.

Não vou entrar no mérito de certo e errado. Mas durante a graduação me dei conta de que não queria ser jornalista. Odiava a estrutura do texto, odiava entrevistar pessoas, tirar fotos, aparecer nas câmeras.

E odiava escrever.

Quando meu status mudou de “estudante” para “desempregada”, eu me vi com aquela crise de identidade que muitos recém-formados conhecem: me formei, mas não quero atuar na área.

E agora?

Eu ainda trabalho com escrita, apesar de não ser jornalista. Mas responder essa pergunta e encontrar um novo caminho profissional foi um longo processo de (re)descoberta.

Eu abandonei muita coisa durante a faculdade — crenças, vontades, hobbies. Fiz isso porque novas experiências me ensinaram coisas novas, mas também por uma necessidade de me encaixar, de me parecer mais com “amigas” que tinham gostos tão diferentes dos meus e que me criticavam por isso.

Mudei a forma de me vestir, as músicas que eu ouvia, o conteúdo dos meus desenhos. E nesse processo de desconstrução, me afastei de partes importantes de mim — não conseguia mais desenhar, tive um quadro depressivo e não me via mais como alguém que borbulhava criatividade.

Tudo que eu fazia era básico, chato e pouco autêntico.

Por sorte, a crise de identidade foi o pontapé que eu precisava para resgatar essas partes de mim perdidas; uma perda que afetou muito minha vida pessoal e, como consequência, minha carreira também.

Nos últimos meses, venho trabalhando para retomar pouco a pouco aquilo que faz sentido pra mim e tento incorporar na rotina novos hábitos que se alinham com a Isabela Que Quero Ser.

Tracei algumas metas para o futuro, como é de praxe nessa época do ano. Tentei não fazer uma lista vazia com resoluções inalcançáveis — cada meta tem um motivo por trás e um objetivo. A lista ficou mais ou menos assim:

  • Diminuir o tempo de uso das redes sociais, porque me sinto vazia e burra após uma sessão intensa de doom scrolling. Meu tempo médio nas redes é de 2h diárias e quero diminuir para 40 minutos.
  • Alimentar minha criatividade, porque inspiração não surge do nada. Posso fazer isso com uma visita rápida ao Pinterest, acompanhando artistas que gosto e consumindo conteúdos correlatos.
  • Jogar mais RPG de mesa, porque isso também alimenta minha criatividade, me proporciona tempo de qualidade com amigos e é um escapismo saudável da realidade. O RPG também tem uma grande sinergia com a escrita, então mais um ponto positivo.
  • Ler mais, porque esse hábito faz bem para a mente e aumenta meu repertório. Todos sabem que a leitura é obrigatória para qualquer redator. Para isso, criei um Medium, salvei bons artigos para ler depois e fiz uma lista de livros com uma pegada gótica e fantástica para me incentivar a retomar o hábito. Atualmente estou lendo Nevernight, de Jay Kristoff.
  • Desenhar sempre que puder, porque no meu processo de autorreflexão, percebi que desenhar é parte intrínseca da minha identidade e que nunca mais quero negligenciar esse lado.
  • Escrever mais, porque… bem, o motivo é óbvio. Sou redatora e escrita é uma prática. Mas não quero escrever só textos para blogs de clientes. Quero escrever algo que seja inteiramente meu — esse artigo que você está lendo ou um conto sobre meus personagens de D&D, por exemplo.

Ainda preciso lutar contra a vontade de jogar Baldur’s Gate 3 por horas a fio, mas estou conseguindo, pouco a pouco, incorporar as novas resoluções em minha rotina (claro que a lista também inclui voltar para a terapia e começar uma atividade física, mas sendo bem sincera, os tópicos que você leu acima são minha prioridade).

E com isso, eu, que sempre escrevi para os outros, comecei a escrever para mim.

Começou com uma ideia inspirada (para não dizer copiada) na animação Vox Machina.

Essa ideia logo se tornou um Docs.

Hoje, ela consiste em 64 páginas de capítulos avulsos, de novas ideias que se ramificaram e que se tornam cada vez mais originais, cada vez mais minhas.

Nessa brincadeira de escrever só pra mim, descobri que a escrita criativa é uma forma maravilhosa de materializar meus devaneios e me refugiar em meu universo particular.

E não é que eu tenho pegado gosto pela coisa? Me sinto cada vez mais capaz de criar. E essa é uma sensação que não tinha há algum tempo e que não pretendo abrir mão.

Basta olhar para esse texto, que comecei a escrever de forma despretensiosa e simplesmente não consigo parar, porque as palavras — boas ou não — estão saindo de forma tão natural que eu quero apenas aproveitar o fluxo.

Mas tudo precisa de um fim e ainda tenho problemas com encerramentos.

Não sei como concluir esse texto. Talvez seja pelo fato de que esse conteúdo é uma reflexão que ainda está em processo. Uma jornada que estou traçando pouco a pouco, descobrindo novos lugares a cada dia, e esse texto é uma pausa para compartilhar meu progresso.

Pensei em encerrar com um conselho batido, mas com muito valor: dê ouvidos à sua musa inspiradora. Escute com atenção essa voz que diz que você pode sim ser uma potência criativa. E trabalhe para alimentar seu potencial.

Talvez, o que vai te trazer felicidade ao longo da vida não seja sua carreira. Mas as coisas que você faz com gosto fora dela. As coisas que são inteiramente suas e de mais ninguém.

Eu volto em breve com outros textos, melhores e mais bem planejados do que este. Por ora, espero que esse conteúdo tenha feito algum sentido para você.

Até a próxima!

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bela

Uma nerdola incorrigível, inpirada por fantasia medival e vampiros. Gosto de desenhar, escrever e jogar.🍄